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Quem Bate?

Bateram à nossa porta? Os que bateram não têm rosto. São insaciáveis e contraditórios. Pedem-nos contenção e crescimento. Mais produtividade e menos remunerações. Mais mobilização e menos recursos. Mais competitividade e menos estruturas. Mais compromisso e menos empregos.

Antes de baterem à nossa porta já tocaram outras campainhas. Gregos e Irlandeses abriram as portas e ficaram pior. Agora batem à nossa porta. O som do batente é duro e amplificado por muitos que cá dentro querem ver escancarada a nossa sociedade, entregando-a submissa à gula de quem bate, seja lá quem for o romeiro.

Bateram à nossa porta. Lembro-me de Augusto Gil que com suave melancolia nos falava da neve que levemente chamava por ele. Mas não é a neve que chama por nós.

Lembro-me também de Brecht que nos contava como tantas portas se abriram com indiferença até que os indiferentes também foram tocados pelo horror da barbárie nazi. Mas não é a barbárie nazi que chama por nós. São apenas os mercados ávidos de tabuleiros para jogar e especular, sem ter em conta que em cada terra há gente e que em cada pessoa há sonhos, projectos, desejos e ambições de realização num contexto social justo e solidário.

Bateram à nossa porta e pedem para abrir. Temos vizinhos poderosos que podem ajudar a que a porta fique cerrada para os que não vêm por bem nem por mal mas apenas pelo instinto predador, mas esses vizinhos hesitam. Olham para a sua casa e temem perder o controlo do sótão, do quarto das traseiras ou da marquise.

Bateram à nossa porta. Se perguntaremos quem é, receberemos a mesma resposta de Frei Luís de Sousa – Ninguém. Não é ninguém. Os mercados não são ninguém e fazem o seu trabalho, mas as pessoas são gente, têm instituições e líderes, territórios e países, poderes e instrumentos.

Bateram à nossa porta. Não voltariam a bater se soubessem que a casa comum europeia estava unida e disposta a salvaguardar um projecto de sucesso, com cinquenta anos de paz e prosperidade colectiva. Mas batem e rebatem. Por vezes já não percebemos se batem mais de fora ou de dentro. A porta range, as pessoas sofrem, mas a luta prossegue.

Bateram á nossa porta. Quem sou eu para prever o futuro. Apenas me inspiro de novo em Brecht. Se a indiferença dos nossos vizinhos e em particular da França e da Alemanha nos obrigar a abrir a porta, cedo ou tarde chegará o dia em que em francês ou em alemão se ouvirá a pergunta … quem bate?

E nessa altura já não haverá condomínio para gerir. Será apenas a mínima fracção a sucumbir à história. Chegará o tempo em que já ninguém nos baterá á porta. A Europa tornar-se-á uma irrelevância fragmentada. Quem bate? Por mim não abro. Quem abrir a porta que a feche depois.

PS: E se os vizinhos cooperarem? Se quem bate perder a parada? Enquanto há vida à esperança e razão para lutar.
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