Relevância
2015/12/27 11:15
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O final do ano é um tempo propício a
balanços interiores e também a exercícios de avaliação e tentativa de
compreensão sobre as várias dinâmicas que fazem mover o nosso mundo. Somos
hoje, com o fácil acesso à informação e com a sofisticação com que ela nos é
transmitida, bombardeados diariamente com relatórios ilustrados sobre dezenas
de acontecimentos globais, que ocorrem nas mais diversas latitudes e
longitudes, numa teia relacional complexa e sobre a qual acabamos por não ter
tempo para refletir.
Dediquei por isso a semana menos intensa
do Natal, para além de reencontrar pessoal ou virtualmente os amigos e de estar
com a família, a ler e pesquisar informação que me permitisse religar ainda que
em esboço, as torrentes de informação que diariamente fui recebendo sobre as
diversas plataformas em que se desenvolve a geopolítica e a geoestratégia
mundial.
De forma descontraída fui lendo sobre as
múltiplas alianças e sistemas comerciais e financeiros que arquitetam o mundo
em que vivemos e cuja compreensão é determinante para ler os conflitos
militares mais ou menos explícitos que trespassam o nosso tempo.
A rede de análise resultante é de uma
complexidade extrema. O mais marcante é perceber que estando tudo interligado,
acaba por haver um interesse partilhado na contenção dos conflitos e na
manutenção de pontes de troca económica e financeira. Uma contenção tensa e com
terríveis efeitos colaterais sobre os povos e as regiões que funcionam como
válvulas de escape (e de realização do negócio da guerra).
Neste texto de ano novo, focado nas
dinâmicas de um mundo interligado para a paz e para a guerra, sublinho um dado
que resulta das várias leituras efetuadas. A União Europeia é cada vez mais um
anão político na cena internacional, embora esteja envolvida direta ou
indiretamente nos conflitos mais perigosos. A quebra de reputação e de
relevância da UE é enorme, e mesmo quando se reduz a União ao seu País motor, a
Alemanha, o seu papel prospetivo não é entusiasmante.
Temos por isso um desafio de relevância
positiva para um espaço económico e político que pugna pelos valores da paz, da
tolerância e do respeito pela diversidade. Sem pretender propor nenhuma receita
milagrosa, que também não conheço, sugiro uma linha de ação que a Europa do Sul
pode desenvolver, para sair ela própria da sua irrelevância estratégica e ser
parte da solução para o reequilíbrio global.
Refiro-me ao urgente contraponto à
Parceria Transpacífica, com uma dupla Parceria Transatlântica. A parceria da UE
com os Estados Unidos e a parceria da UE com o Mercosul (Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai como núcleo duro para este efeito). Parcerias relevantes
para o mundo, para a UE e que ajudarão Portugal a sair da periferia política em
que os defensores do “protetorado” o colocaram.
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