Fazer das fraquezas forças
Não há guerra sem dor. Dor de quem nela participa diretamente e dor de quem por ela é mobilizado, sensibilizado, condicionado ou amedrontado. Estes sentimentos não são todos de igual nível de altruísmo, mas estão todos presentes, com maior ou menorponderação, quando tomamos consciência e nos tornamos parte de um conflito que pode afetar milhões de seres humanos e a nós também, como é o caso da invasão da Ucrânia pela Federação Russa.
Este conflito, que como todos os conflitos, sabemos como começou, mas não como vai acabar, revelou entre muitas outras coisas, as forças e as fraquezas da União Europeia(UE). Para os que tinham proclamado a irrelevância e a fratura da União, a resposta concertada de apoio à Ucrânia em articulação com as outras potências defensoras da democracia, da autodeterminação dos povos e da liberdade, constituiu um desmentido inequívoco. O pedido de adesão da Ucrânia e de outros povos sobre ameaça do imperialismo totalitário à UE mostra bem a força que ainda tem num mundo em erosão e desordem, uma parceria baseada nos valores e no Estado de Direito.
O Vice-Presidente e Alto Representante da UE para a Política Externa, Joseph Borrell, afirmou que a invasão da Ucrânia marcou o nascimento da UE como potência geopolítica. Esta afirmação é um reconhecimento cabal de que sendo a capacidade diplomática muito importante, só por si é insuficiente para fazer a diferença no mundo cada vez mais tenso e conflitual em que vivemos.
É por isso que sendo importante sublinhar o renascer da UE como uma referência global, impulsionada pela forte mobilização democrática das suas opiniões públicas e pela resposta assertiva dos Governos nacionais e das Instituições comunitárias, não podemos escamotear as fragilidades que na ocasião também surgiram à tona, em particular a dependência externa brutal da nossa aliança de defesa e segurança e do nosso sistema de abastecimento de energia.
A pertença da maioria dos Estados Membros na NATO é uma garantia de defesa dos nossos valores, mas será tão mais sustentável quanto formos parceiros não apenas nopapel, mas também nas capacidades instaladas para defesa da paz face às velhas ameaças convencionais e de destruição massiva e às novas ameaças biológicas químicas e cibernéticas. Da mesma forma é insustentável a dependência que por vários egoísmos nacionais continuamos a ter da importação de energia para colmatar as nossas necessidades de consumo. Este é o momento de fazer das fraquezas forças. Não o desperdicemos.