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Comunidades

Têm sido muitos os relatos que me têm chegado de pessoas que dizem ter redescoberto amigos, colegas de trabalho, relações pessoais e novos grupos de interesse a partir do momento em que mergulharam nas redes de contacto virtual e começaram a reunir através das diversas plataformas.

Uma explicação dada é que as plataformas criam um campo mais plano de interação, reduzem os simbolismos do poder, focam a comunicação no essencial e no acessório. Isso torna, segundo os reportes que citei, a conversa mais fluída, menos dispersa e mais gratificante ou produtiva conforme o objetivo a atingir.

Para quem como eu se interessa muito pelos fenómenos da transição digital, ainda que forçada como aconteceu desta vez, e pelos seus impactos sociais e económicos, estas constatações são muito curiosas e desafiantes.

Neste texto juntarei à reflexão duas notas da minha experiencia prática, uma relacionada com o uso das plataformas em reuniões de trabalho virtuais e outra sobre o seu uso em tertúlias de interesse e partilha de ideias.

No que diz respeito ao trabalho, tendo participado recentemente em árduas e complexas negociações através das plataformas, verifico que a comunicação é mais limpa de ruído, as pessoas tendem a ser mais centradas no tema em análise e os compromissos mais fáceis de obter. 

Tenho, no entanto, ainda dúvidas sobre se esses compromissos têm a mesma resiliência e grau de resistência que os compromissos que se arrancavam após longas horas de negociação presencial e eram selados com um abraço, um forte aperto de mão e por vezes um brinde conjunto. Suspeito que não. que a sua leveza também significará fragilidade, mas só o tempo me permitirá tirar conclusões.

Já no que diz respeito às tertúlias de interesse, de amigos ou de familiares que agora mais facilmente podemos reunir sem esforço e custos de deslocação, tenho verificado que elas só funcionam bem virtualmente quando já tinham uma base física sólida. É por isso que duvido dos arautos que defendem que a partir de agora as plataformas podem substituir tudo ou quase tudo no relacionamento entre as pessoas, na sua formação, nos processos de interação ou de negociação. 

A escola é para mim um particular exemplo. A comunidade escolar pode ser melhorada e complementada pelo recurso às plataformas, mas só será completa se for criada fisicamente e escorada em laços fortes de compromisso e de pertença. E quem diz a escola diz tantas outras coisas. Só o que é sentido como património comum se liberta do espaço para ser partilhado.


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