Barbas de Molho (Um apontamento sobre a Grécia)
2015/06/28 11:34
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Por vezes, quanto mais próximo acompanhamos um fenómeno complexo, maior é o ruído e a multiplicidade de sinais a que estamos expostos e mais difícil é compreendê-lo. Antes de escrever este texto foram centenas as pessoas que me perguntaram sobre o que vai acontecer à Grécia enquanto membro da União Europeia e da Zona Euro nas próximas, horas, dias, semanas, meses e anos. A todos respondi que era impossível prever com um mínimo de certeza.
Chistine Lagarde, Presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), acusou os negociadores Gregos de falta de maturidade. Eu, pelo me que tem sido dado ver, acuso todas as partes em conflito de falta de maturidade. Imaturos têm sido os Gregos, mas também os membros das várias instituições europeias que se deixaram engalfinhar num enredo que já dificilmente pode ter um fim feliz. É justa uma exceção relativa para o Parlamento Europeu e para a Comissão Europeia. Juncker e Schulz, e as suas equipas, têm sido dos poucos a mostrar cabeça fria e a dar contributos para uma solução digna.
Não vou arriscar aqui, em antecipação, qualquer previsão para o resultado da crise grega. Vou antes focar-me num aspeto estrutural do processo e que me deixou profundamente chocado e indignado. Falo da abusiva interferência dos credores, em particular do FMI, na escolha política interna dum Estado soberano.
De forma simplista, que o espaço não permite ir mais longe, o Estado Grego constituiu-se num dever de pagar uma dívida e os credores têm o direito de resistirem a fazer novos empréstimos se não ficar clara a vontade do devedor em honrar os seus compromissos. (Nada seria assim se tivéssemos completado a União Económica e Monetária, mas essas são contas de outro rosário).
O que os credores não podem ter é nenhuma tutela moral sobre um Estado Soberano. Não podem dizer que não querem ser pagos pelos impostos aplicados aos que praticam a evasão fiscal, porque isso asfixia a economia (sic) e querem antes ser pagos por cortes de pensões ou no fornecimento de bens essenciais.
Permitir uma interferência de um organismo técnico na soberania política de um País é um precedente muito perigoso. Quem o defende em Portugal devia começar já a por as barbas de molho.
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