Agosto
2016/08/06 11:41
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Embora muitos não tenham férias e outros as vão repartindo cada vez
mais ao longo do ano, Agosto continua a ser visto e considerado na consciência
coletiva como o mês das férias.
Um mês adequado, por isso, para refletir sobre como a mudança na maneira como vivemos o quotidiano, também se reflete na forma como se vivem as oportunidades diversas de sair desse quotidiano.
Um mês adequado, por isso, para refletir sobre como a mudança na maneira como vivemos o quotidiano, também se reflete na forma como se vivem as oportunidades diversas de sair desse quotidiano.
Há inúmeras opções de fazer férias, mas todas elas têm em comum uma
quebra mais ou menos radical do quotidiano. Podem implicar mudança física,
deslocações mais ou menos longas no tempo e na distância, ou significarem
simplesmente fazer coisas diferentes no mesmo sítio, ler, conviver, dar atenção
a algo de que no tempo normal não podemos tratar ou cuidar.
A quebra da rotina quebra também as barreiras que impomos a nós
próprios para pensarmos menos sobre a vida e sobre o sentido da vida e para surfarmos
com maior leveza as dificuldades, sem os riscos de nos afogarmos na onda da
complexidade e sobretudo da complicação.
Já aproveitei muitos destes textos estivais para desafiar os meus
leitores para usarem também as suas férias, quando as podem ter, para fazerem
um balanço do ano que finda e com ele prepararem a mobilização para um novo
ano, com uma participação ativa no combate que temos pela frente, de tornar nas
pequenas e nas grandes coisas, o nosso mundo mais livre, menos desigual, mais
justo e mais solidário.
Mas o mundo de hoje, com a emergência da sociedade e da economia da
informação, torna mais densas e alargadas as rotinas que temos que mover para
fazer das férias uma quebra do quotidiano.
Partilhamos tantos impulsos, tantos dados, tantas noticias que nos
vemos obrigados a desenvolver uma matriz de leitura, ou seja, um quadro
automático de seleção sobre o que nos interessa e o que não nos interessa, para
nos traçar um cenário do dia-a-dia que seja possível de acompanhar e de certa
forma controlar.
A fronteira entre a curiosidade mental na procura do novo e do
inesperado na forma como fruímos o dom extraordinário da vida e a inquietude
gerada por essa curiosidade, é uma fronteira ténue, mas que pelo menos nas
férias vale a pena arriscar quebrar.
Olhar o mundo para além as ideias feitas, repensá-las à luz da mudança
que vivenciamos todos os dias, ousar aplicar novos padrões de leitura, conhecer
outros territórios do saber e reforçar a nossa capacidade de sermos
protagonistas do que acontece. Vale a pena tentar. Bom Agosto.
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