Vida Corrida
2019/12/07 09:52
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Recentemente, após ter colocado nas redes sociais um texto sobre os trabalhos que desenvolvi em Africa para procurar contribuir para que as parcerias internacionais sejam amigas da paz, do desenvolvimento sustentável e duma visão humanista para o futuro do mundo, uma amiga de juventude que a seu tempo teve grande influência no meu gosto pela política ativa e pelo meu compromisso com o PS, fez um comentário que mexeu comigo.
Escreveu ela, e cito apenas excertos, “compreendo ou tento compreender o teu otimismo … se não o tivesses não exercerias as funções que exerces (…) mas eu não estou nada otimista. A geopolítica é só para alguns. Nós, como todos os iguais a mim, devíamos ser o centro, o foco da ação e da decisão, mas nesses corredores, nessas salas, não existimos. Somos apenas estatísticas (…). Tive esperança, muita esperança, num mundo bom para os meus filhos. Mas a minha geração falhou, e tudo o que lhes deixo é desesperança. Mas deixo-lhe um conselho (…) que não se calem”.
Que grande texto, ainda melhor se o espaço permitisse citá-lo na integra, e que grande questão colocou a minha amiga. O mundo de hoje é como um lago. Sobrevivem os peixes grandes e os pequenos que se escondem nas rochas. Há cada vez menos espaço para os peixes médios a não ser em ecossistemas fechados e protegidos.
Eu, a minha amiga e tantos outros amigos que me enchem a memória, somos a geração do 25 de Abril. Acreditámos que íamos melhorar o mundo com as nossas mãos, mas a realidade foi mais rápida que nós e escorregou-nos.
O mundo, em média, melhorou e a síntese entre a esperança e a desesperança é antes de mais um combate pessoal e emocional, mas sentimos que não fomos tanto como sonhámos ser, protagonistas centrais dessa mudança. As comunidades foram evoluindo e os fenómenos foram acontecendo apesar de nós, ou pelo menos, duma forma em que a consciência do nosso contributo se foi tornando cada vez mais difuso.
Amiga, é bom o conselho que deixas aos teus filhos e que é válido para todas as gerações. Que não se calem e sobretudo que não desistam de participar e exigir, seja nos patamares da geopolítica ou nas redes da sua escola, do seu bairro, da sua rua ou da sua empresa. Quem define o a nossa centralidade somos nós. Esperar que outros o façam é meio caminho andado para a deceção e para a desistência. O sistema adora os que desistem. Consomem e não chateiam.
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