Sol e Sombra (O indicador psicológico)
Assinalámos recentemente os cinquenta anos do então Grande Prémio TV da Canção Portuguesa (percursor do atual Festival da Canção) em que Ary dos Santos e Fernando Tordo fizeram uma enorme faena à censura, conseguindo vencer com uma composição intitulada “Tourada”, cuja letra era uma inspirada alegoria sobre a decadência do regime. Um ano depois, o 25 de abril de 1974 rasgou avenidas de esperança e de liberdade. Vivemos hoje incomparavelmente melhor do que nesse tempo e o “inteligente” é o povo, soberano nas suas escolhas escudadas numa Constituição da República, democrática e progressista.
Em Portugal e um pouco por todo o mundo democrático, em que são os povos quem manda, tem vindo a crescer uma vaga de crispação social, que decorre por um lado dosfatores económicos emergentes da pandemia e da guerra, como o aumento generalizado da inflação e a quebra do poder de compra de largos estratos da população e por outro lado, da perceção de que esses impactos são muito desiguais e de que as desigualdades económicas e sociais estão a atingir níveis incomportáveis.
Os noticiários, pelo menos os daqueles países que seguimos mais diretamente, vão abrindo ora com notícias da guerra e da tremenda diferença que o compromisso dos soldados Ucranianos na defesa da soberania tem feito na evolução do conflito, ora com o reflexo nas ruas dos múltiplos e dispersos descontentamentos que corroem as sociedades modernas.
Em democracia, a liberdade de expressão e de manifestação é um bem maior. A asfixia autoritária multiplica o sofrimento e a iniquidade, embrulhando-a no medo e na indignidade dos silêncios forçados. O papel dos governos e da qualidade da administração do bem comum é fundamental, mas tal como na frente da batalha na defesa da soberania da Ucrânia, há um fator psicológico determinante para o resultado das políticas; o fator psicológico que distingue o protesto desistente do protesto construtivo, ou a luta por convicção da luta por submissão.
Perspetivando o futuro, temos tido acesso a múltiplos indicadores, quer sobre a possível evolução da guerra, quer sobre a evolução das economias, uns muito bons e outros mais preocupantes. Entre o sol e a sombra, contudo, é hoje cada vez mais claro que o indicador psicológico determinará a vitória da primavera da liberdade democrática ou a prevalência do inverno autocrático. Lutar com propósito firme e compromisso com as soluções viáveis, é o caminho mais “inteligente” para defender e transformar para melhor o mundo livre em vivemos.