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Dilema

   

De tempos a tempos e com intervalos cada vez mais curtos devido á forte aceleração científica e tecnológica a humanidade vê-se confrontada com dilemas de transformação económica e social. O exemplo mais conhecido da história ocorreu com a introdução da máquina a vapor que substituiu milhares de empregos artesanais, mudou a estrutura da economia e nos conduziu aos modelos de sociedade que ainda prevalecem. 

 

Normalmente a uma grande descoberta científica ou tecnológica está sempre associado um dilema. Com a sua aplicação e com as mudanças induzidas alguns ganharão e outros perderão. A decisão, quando é possível decidir, deve ponderar se no final a sociedade ficará melhor ou pior, tendo em conta o uso e o propósito dado às novas técnicas e ferramentas.    

 

Na ordem do dia, neste momento, está o impacto da Inteligência Artificial generativa, ou seja, dos modelos lógicos de tratamento de dados (designados algoritmos) que não apenas copiam e reproduzem com muito maior velocidade e capacidade de conjugar dados e informações aquilo que os humanos fazem, podendo substitui-los em muitas tarefas, como conseguem já gerar inferências próprias e poderão rapidamente fazer muitas outras coisas cuja complexidade não se adequa ao âmbito de divulgação e reflexão deste espaço.

 

Na minha recente missão ao Quénia, sobre a qual já aqui escrevi, visitei um projeto de apoio ao desenvolvimento financiado pela União Europeia, com o objetivo de apoiar uma comunidade muito jovem, com elevados índices de pobreza e sujeita aos impactos das alterações climáticas e das secas cada vez mais frequentes. 

 

O projeto incluí a formação e apoio aos agricultores para produzirem mangas de variedades mais resistentes e com maior valor comercial, apanha e envio para uma empresa local de descasque, transformação em sumo concentrado ou fibra desidratada, embalagem e comercialização.

 

O processo poderia ser todo mecanizado, mas por opção a apanha dos frutos no campo e o seu descasque na fábrica eram manuais. Assim se empregavam e geravam rendimentos diretos para as famílias que tratavam das árvores e para os jovens que se ocupavam do descasque e alimentação das máquinas, integrados num processo que também incluía a socialização e a formação. Houve quem comentasse que o trabalho repetitivo de descasque das mangas era desnecessário e penalizador para quem o fazia. Talvez fosse, mas aquele lado manual da fábrica fazia dela um centro de capacitação e inclusão e não apenas uma máquina de transformação no meio da savana. O dilema foi, a meu, ver bem resolvido.

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