Visto de Casa 28/03
2020/04/10 18:28
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Trump popularizou na sua campanha para eleição como Presidente dos Estados Unidos da América dois slogans que pelas piores razões jamais esqueceremos – “A América Grande de Novo” e “A América Primeiro”. Infelizmente, para os americanos e para o mundo em geral, o segundo slogan ganhou agora um sentido macabro. A América está agora em primeiro em número de infetados com coronavírus. Uma forma triste de cumprir uma promessa.
Os populistas vivem de culpar “o outro” por tudo o que de menos bom acontece na sociedade. Neste caso também tentaram. Não é por acaso que Trump insiste em chamar ao COVID19 o vírus chinês. Bolsonaro e outros da mesma estirpe também minimizaram a ameaça e arriscam -se a agravar a catástrofe nos seus países e no mundo.
Ainda está por fazer a história da origem desta mutação viral, mas agora o inimigo a combater é mesmo a pandemia e isso atrapalha muito os populistas que pululam pelo planeta. O vírus é mais difícil de “colar” como culpa dos outros, sem salpicar também quem o tenta fazer.
A pandemia trouxe também para a arena virtual do centro do debate público a dicotomia entre o nacionalismo e internacionalismo, ou noutra fórmula, entre o protecionismo e a globalização. Já aqui escrevisobre o tema e não me vou repetir. A globalização pode ser boa ou má conforme o que fizermos com ela. A grande maioria dos problemas que temos que enfrentar hoje no mundo não conhecem fronteiras e precisam de respostas coordenadas e alargadas.
Os fenómenos extremos trazem ao de cima o melhor e o pior que têm os indivíduos, as comunidades e a própria humanidade. Não foram só alguns cidadãos que pelo mundo fora açambarcaram papel higiénico, álcool e outros bens considerados essenciais. Também alguns países fecharam fronteiras e bloquearam o acesso de outros mais necessitados a material médico e de proteção essenciais.
Estas questões entroncam diretamente com a questão da soberania. As parcerias internacionais, tal como as defendo, devem ser acordos multilaterais aplicáveis ao comércio, mas também a tudo s que o envolve, como as garantias de cooperação e articulação no plano jurídico, social e ambiental, do estado de direito, dos direitos humanos e da resposta articulada a ocorrências não previstas.
Infelizmente estamos longe de viver num mundo perfeito e embora o caminho mais promissor seja o aprofundamento cada vez maior dos laços de cooperação entre os povos, cada País tem que assegurar reservas de soberania adequadas ao risco de quebra das parcerias em que se insere, reservas essas que também auxiliam a combater fenómenos de especulação ou chantagem de Estado, de que ninguém está livre.
Traduzindo isto para Portugal e para a União a que pertencemos, temos que tirar lições da crise que estamos a atravessar. Vale a pena continuar a dar tudo, como temos dado, para que a União Europeia esteja à altura das suas responsabilidades. Há sinais positivos, mas não definitivos sobre o possível sucesso desse esforço. Se a União não estiver à altura, então devemosrecuar temporariamente na soberania partilhada até podermos confiar de novo numa Europa renovada e solidária.
Amanhã é outro dia e como costumamos dizer, na vida tudo pode mudar de um dia para o outro. Para melhor espero. Até amanhã com muita saúde para todos.
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