"Big Brother" (o gesto não é tudo - versão 3000 caracteres)
2009/07/12 00:43
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Num debate recente, proporcionado pela minha condição de comentador do programa Vice-Versa na RTPN, o Deputado Jorge Neto (PSD), meu opositor de ocasião, comentou com grande seriedade o episódio que levou à demissão de Manuel Pinho, chamando à atenção para o “Big Brother” permanente em que se transformou a política nacional nos dias de hoje e para a crueldade que daí resulta.
De facto, um gesto irreflectido de Manuel Pinho marcou o debate do Estado da Nação. Por muito que me custe constatar esse facto, sei que é essa a percepção imediata dos portugueses. Uma percepção que se acalmará com o tempo.
O debate do Estado da Nação foi um confronto entre políticas e propostas do Governo, discutíveis mas concretas, com um apagão táctico das oposições, temendo que qualquer ideia lhe perturbe a acumulação de descontentamentos difusos com que planeiam vencer as eleições que se aproximam.
Tirando o incidente que marcou o debate, a essência da discussão marcou o fim do Estado de Graça de Paulo Rangel e do PSD, conseguidos com o resultado das eleições europeias. Além do mais a situação criada pelo momento infeliz de Manuel Pinho foi debelada com dignidade por todos os intervenientes e resolvida com rapidez e ponderação por José Sócrates.
Mas mais importante do que tudo isso é sublinhar que a forma não pode esconder a substância. Manuel Pinho pode ter tido momentos de menos auto controlo na comunicação e na expressão, mas fez obra meritória no desempenho do seu cargo. Foi visionário na forma como colocou, com a sua equipa, Portugal na fronteira tecnológica em sectores chave, de que as energias renováveis são o melhor exemplo. Foi pragmático na maneira como traduziu essa visão em oportunidades de negócio para as empresas portuguesas e em âncoras para a internacionalização da nossa economia.
No dia a seguir à demissão de Manuel Pinho muitas foram as vozes que não se coibiram de afirmar que o legado deste Ministro da Economia vai muito para além da imagem caricata que a parafernália mediática espalhou pelo mundo. É também essa a minha opinião.
Mas a análise deste episódio conduz-nos a reflexões mais profundas. Qual é a hoje a fronteira entre o público e o privado na vida política. Qual o peso relativo entre o que se faz e o que se aparenta. Será a política um palco e uma encenação onde só sobrevivem os bons actores. Quais as consequências deste contexto de exposição permanente para o exercício da politica como acção persistente de mudança?
Tenho sobre isto uma opinião clara. Os políticos hoje não podem ignorar que a casa da democracia é escrutinada sem fronteiras entre a transparência pública e o direito à privacidade. Não podem ignorar isso, mas têm que actuar como se não fosse assim e fazer as mudanças estruturais que forem necessárias, confrontando interesses e fazendo escolhas. Só assim marcarão a sua passagem pela “casa” com dignidade, independentemente da forma como dela forem levados a sair.
De facto, um gesto irreflectido de Manuel Pinho marcou o debate do Estado da Nação. Por muito que me custe constatar esse facto, sei que é essa a percepção imediata dos portugueses. Uma percepção que se acalmará com o tempo.
O debate do Estado da Nação foi um confronto entre políticas e propostas do Governo, discutíveis mas concretas, com um apagão táctico das oposições, temendo que qualquer ideia lhe perturbe a acumulação de descontentamentos difusos com que planeiam vencer as eleições que se aproximam.
Tirando o incidente que marcou o debate, a essência da discussão marcou o fim do Estado de Graça de Paulo Rangel e do PSD, conseguidos com o resultado das eleições europeias. Além do mais a situação criada pelo momento infeliz de Manuel Pinho foi debelada com dignidade por todos os intervenientes e resolvida com rapidez e ponderação por José Sócrates.
Mas mais importante do que tudo isso é sublinhar que a forma não pode esconder a substância. Manuel Pinho pode ter tido momentos de menos auto controlo na comunicação e na expressão, mas fez obra meritória no desempenho do seu cargo. Foi visionário na forma como colocou, com a sua equipa, Portugal na fronteira tecnológica em sectores chave, de que as energias renováveis são o melhor exemplo. Foi pragmático na maneira como traduziu essa visão em oportunidades de negócio para as empresas portuguesas e em âncoras para a internacionalização da nossa economia.
No dia a seguir à demissão de Manuel Pinho muitas foram as vozes que não se coibiram de afirmar que o legado deste Ministro da Economia vai muito para além da imagem caricata que a parafernália mediática espalhou pelo mundo. É também essa a minha opinião.
Mas a análise deste episódio conduz-nos a reflexões mais profundas. Qual é a hoje a fronteira entre o público e o privado na vida política. Qual o peso relativo entre o que se faz e o que se aparenta. Será a política um palco e uma encenação onde só sobrevivem os bons actores. Quais as consequências deste contexto de exposição permanente para o exercício da politica como acção persistente de mudança?
Tenho sobre isto uma opinião clara. Os políticos hoje não podem ignorar que a casa da democracia é escrutinada sem fronteiras entre a transparência pública e o direito à privacidade. Não podem ignorar isso, mas têm que actuar como se não fosse assim e fazer as mudanças estruturais que forem necessárias, confrontando interesses e fazendo escolhas. Só assim marcarão a sua passagem pela “casa” com dignidade, independentemente da forma como dela forem levados a sair.
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