A aceleração do tempo
2018/01/01 11:24
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Mudou o ano num tempo de mudança como foram todos os tempos. O tempo que agora vivemos é no entanto um pouco mais do que um tempo de mudança. A aceleração tecnológica quebrou barreiras de espaço e distância e redefiniu a percepção do tempo. Por isso,mais do que num tempo de mudança, vivemos numa era marcada pela mudança do que significa o tempo e de como ele influencia as nossas vidas.
Há muito tempo que sabemos que o tempo é feito de mudança e que a mudança é o estado normal nos tempos modernos. Mas agora o que está a mudar é a aprópria noção do tempo. Do tempo necessário para fazer uma viagem, responder a um desafio, decidir sobre uma questão, aceder a uma informação. Cada vez mais, corremos atrás do tempo em vez de o fruirmos como uma plataforma para a experiência maravilhosa da vida e dos seus ciclos.
Todas as próteses cognitivas (ou parafernália de recursos tecnológicos) que foram desenvolvidas para nos dar mais capacidade de resposta e portanto mais tempo, acabaram por exigir maiores volumes de resposta e proporcionalmente reduzir o tempo que temos disponível para nós, sem o jugo dos novos critérios de tempo para trabalhar e até para o lazer ou para a interação.
Nem todos fomos arrastados na vertigem do tempo, e mesmo aqueles que pelas suas responsabilidades e funções não lhe podem fugir, estão cada vez mais a procurar estratégias de escape pontual, numa luta difícil contra as poderosas forças de atração para o vórtice da aceleração.
Na última semana do ano muitos de nós, tomados pelo espírito festivo do Natal e da transição do ano, conseguimos desacelerar a correria (ou transferi-la para outras veredas como a visita aos amigos e familiares, a compra de prendas ou a troca de mensagens) e tomar consciência de como a aceleração do tempo está a mudar as nossas vidas, tornando-as mais diversas e eventualmente produtivas, mas nãonecessariamente mais gratificantes e felizes.
Este texto é produto da minha desaceleração relativa no final do ano. Foi sol de pouca dura mas que inspirou a reflexão que agora partilho. Vou acelerar de novopara mais um ano de extraordinários desafios, mas espero conseguir fazê-lo de forma diferente.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” escreveu Camões. Sinto uma enorme urgência em mudar a minha relação com o tempo. E você? Se aceita um desafio de amigo, pense no tempo e na forma como o vive e se possível use-o em vez de se deixar usar por ele. Eu prometo que vou tentar.
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