Embora o próximo ano seja um ano cheio de eleições, não é sobre votos eleitorais que vou escrever nesta crónica! Vou sim, reflectir sobre os votos que se vão multiplicar entre nós nos próximos dias. Os votos de Bom Ano novo.
Desejar bom ano a todos, mais ou menos próximos, é uma tradição longínqua da nossa cultura, agora muito multiplicada pelas proximidades virtuais que os telefones, os telemóveis e os computadores nos proporcionam.
Mas será que faz sentido desejar bom ano de ânimo leve a tudo e a todos, quando sabemos que para a grande maioria das pessoas, em Portugal e no mundo, o ano que se anuncia não auspicia nada de bom? Em minha opinião, faz sentido manter os votos mas não a totalidade do seu sentido. Importa que também os votos de bom ano novo se adaptem aos tempos e sejam menos materialistas e mais focados no bem-estar e na felicidade dos que nos rodeiam.
O próximo ano não será segundo todas as previsões um ano de crescimento económico significativo e de estabilidade na economia e no emprego, nem em Portugal nem na esmagadora maioria dos Países, em particular dos países industrializados. Nada impede contudo que 2009 não possa ser um ano feliz para muita gente, sobretudo se os valores éticos de partilha e fruição imaterial conseguirem suplantar a febre consumista na realização e afirmação dos indivíduos e das comunidades.
Temos vivido, sobretudo no Ocidente, décadas de crescimento e bem-estar que não se traduziram de forma directa na percepção de felicidade e realização dos povos. Pelo contrário, os estudos mostram níveis crescentes de ansiedade e medo, alastrando em mancha de óleo pela sociedade materialista e consumista que fomos paulatinamente construindo.
A crise económica e financeira que assola o mundo é o outro lado duma moeda que também contém como valor facial a oportunidade de mudança. Mudança nos modelos económicos, nos processos de gestão e no uso sustentável dos recursos naturais, mas mudança também nas atitudes, nas prioridades e no sentido último da vida em sociedade. Neste contexto, o próximo ano pode não ser um bom ano pelos padrões quantitativos com que nos habituámos a julgar a dinâmica económica e social, mas pode ser um ano de reencontro da humanidade consigo mesma.
E é por isso que nesta última crónica do ano de 2008, já com as trompetes do tempo anunciando o novo ano, vos queria propor uma alteração do sentido dos votos que todos vamos fazer nas próximas horas.
O desafio é simples. De cada vez que desejarmos bom ou feliz ano novo a quem nos rodeia, desejemos-lhe a abundância e o sucesso, mas desejemos-lhe também a felicidade, a paz interior, a amizade, a reflexão e a riqueza de estarem de bem consigo mesmos e com os outros.
É com este sentido profundo que endereço a todos os leitores do Visto do Alentejo os meus sinceros votos de Feliz 2009.
Carlos Zorrinho